Como segunda etapa, o texto original, transcrito no passo anterior, foi traduzido para o português, para que, posteriormente, possa ser adequado ao formato de legenda. Informações adicionais não presentes no texto mas que possam ser úteis foram destacadas entre colchetes.
O Projeto Forgiveness [Perdão, em português] é uma obra de caridade internacional que explora a natureza do perdão através de histórias de pessoas que foram vítimas de crimes e atrocidades, bem como de pessoas que cometeram, eventualmente, atos bastante terríveis. A fundadora desse projeto impressionante, Marina Cantacuzino, acredita que o processo de cura começa no ato de entender.
Além de usar as histórias das pessoas, temos também uma exposição impressionante chamada “The F word”, para promover e criar o diálogo. O Projeto Forgiveness funciona em escolas, prisões, comunidades religiosas e em qualquer grupo que queira explorar a natureza do perdão, seja num sentido mais amplo, de contexto político, ou em suas próprias vidas.
A postura agressiva do governo britânico com relação ao Iraque me motivou a iniciar o projeto. Sou uma jornalista freelance há 15 anos e acho que este foi o único evento que me inspirou a tentar algo diferente e tentar fazer as pessoas entenderem a futilidade da atitude do “olho por olho”. Valores e princípios budistas embasam minha visão de mundo e [o Presidente internacional da Soka Gakkai,] Daisaku Ikeda, parece ser uma das poucas pessoas, à época, que falava abertamente contra a retaliação e a inspirar pessoas a pensar profundamente sobre as consequência de um conflito vil, e eu me senti muito amparada por isso. Tendo crescido com um irmão deficiente e portador de doença terminal, e sempre me sentindo diferente por isso, acho que o medo do diferente é provavelmente a causa de boa parte das dores do mundo. Então comecei a colecionar histórias de pessoas que sobreviveram à violência, tragédia e injustiça. E que buscaram o perdão e a reconciliação ao invés da vingança.
Victória era muito preciosa para nós. Desde o primeiro dia que soubemos de sua morte, começamos a rezar para que um dia pudéssemos perdoar. Ficar preso numa posição fixa de retaliação é matar a criança duas vezes. Você extingue o prórpio espírito e a lembrança de sua criança.
Eu tive a felicidade de conhecer a falecida Anita Roddick e compartilhar algumas das histórias, e ela ficou tão comovida por elas que concordou em encabeçar a exposição “F word – Imagens e Perdão”. Aberta em janeiro de 2004, o sucesso avassalador da exposição me surpreendeu completamente. E o material utilizado veio de comunidades religiosas, escolas prisionais, e de todas as partes do Reino Unido e além. Eu diria que a exposição “F word” foi vista em aproximadamente 350 locais, e provavelmente 40 mil pessoas já a viram no mundo, porque foram seis exposições, incluindo uma da África do Sul e uma nos Estados Unidos. Temos 500 visitantes por dia no site, em média. E pessoas de todo o mundo, vítimas ou agressores, mandam suas histórias para nós por e-mail. Pessoas também nos dizem que ler estas histórias online teve um efeito de cura, ajudando-os a lidar com a dor em suas próprias vidas.
Três meses depois da libertação de Nelson Mandela da prisão, recebi uma carta bomba, e na explosão perdi as duas mãos, um olho e tive meu tímpano destruído. Ninguém respondeu por esse crime. Eu não perdoei ninguém, porque não tenho a quem perdoar.
Nós temos um programa nas prisões que fornece a oportunidade aos presos de refletir sobre o mal que causaram e, mais significativamente, ajuda-os a compreender a relação entre eles mesmos como vítimas e as vítimas de seus crimes. Acabamos de iniciar, para os presos, o “Processo de Comunicação Criativa” que explora o perdão através da mídia digital, e isso dá a oportunidade de explorar a história de vida deles, e suas experiências com o perdão, criando algo relativo a peças [teatrais], música ou documentários. Também estamos aconselhando e treinando professores para levar este trabalho para as escolas.
Eu moro em Londres com meu marido e três filhos, e venho praticando o budismo há 25 anos. Então recorro à minhas praticas budistas para me ajudar a lidar com alguns dos vários desafios que vem com esse trabalho.
Um grupo chamado “Famílias de Vítimas de Homícidio pela Reconciliação” foi contatado pela mãe do suposto 20º sequestrador [do atentado de 11 de setembro] Zacharias Massawi. Ela queria encontrar alguns familiares das vítimas e pedir por perdão. Enquanto esperávamos num prédio de uma universidade particular, a mãe de uma das vítimas do World Trade Center veio encontrar com ela. Nós ouvimos os passos e depois silêncio. Então ouvimos um soluçar. Quando finalmente entraram na sala, as mães estavam abraçadas. Nesse momento todos estávamos chorando. Um dia eu espero encontrar Zacharias Massawi. Eu gostaria de dizer a ele “você pode odiar a mim e a meu irmão o quanto quiser, mas eu quero que saiba que eu amei sua mãe e a confortei quando ela estava chorando”.
Minha visão para o projeto é que continue a crescer, e que logo tenhamos um número de filiais em outros países pelo mundo. E, claro, que o programa da prisão mostre efetivamente afetar o modo que os presos veem o crime, e que o projeto nas escolas mostre afetar a maneira que as crianças veem conflito e justiça.
Eu parabenizo Marina pelo seu valioso trabalho. Que Deus a abençoe.

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